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Carlos Daniel Santos
Escrito por:

Carlos Daniel Santos Mestre em Medicina, Licenciado em Saúde Ambiental e em Radiologia e investigador na área de Saúde da Mulher

Diarreia na gravidez: causas, riscos, sintomas e tratamento

É comum a diarreia na gravidez?

A diarreia na gravidez pode ter várias causas, podendo estar associada a outros sinais ou sintomas. Os grandes riscos da diarreia na gravidez é o de desidratação e de diminuição do aporte calórico e vitaminas, se a diarreia se prolongar. No entanto, existem formas de tratamento simples e de fácil acesso.

Define-se como diarreia, quando as fezes são anormalmente líquidas e associadas a um aumento de frequência defecatória, com um peso superior a 200 gramas por dia (esta parte é difícil de quantificar, no entanto faz parte da definição). A diarreia pode ocorrer de forma aguda (inferior a duas semanas), persistente (entre duas e 4 semanas) ou crónica (superior a quatro semanas). Durante a gravidez, pode haver vários fatores que causem diarreia, desde condições de saúde previamente existentes, tal como síndrome do intestino inflamatório, doença de Crohn, doença celíaca, intolerância à lactose ou situações decorrentes da ingestão de alimentos contaminados por determinadas bactérias ou a infeção do intestino por um agente viral comum.

O que causa a diarreia na gravidez?

A diarreia pode ser dividida pelas várias formas de aparecimento, seja por danos na mucosa intestinal (diarreia inflamatória) ou por um aumento da absorção da água pelo intestino (diarreia osmótica – mais aquosa), secretória (por contaminação alimentar) ou “motora” (quando existe um aumento dos movimentos intestinais). Qualquer tipo de diarreia na gravidez pode acontecer, pelo que depende sempre da condição de saúde da mulher, dos seus hábitos e comportamentos alimentares, das doenças prévias existentes e também da exposição a determinados agentes patógenos provocadores de diarreias (vírus ou bactérias).

Aqui estão alguns dos exemplos de causas de diarreias, segundo a sua forma de aparecimento:

  • Secretória: tumores neuroendócrinos, laxantes, infeciosa, diarreia de ácidos biliares;
  • Má absorção/osmótica: sobrecrescimento bacteriano, insuficiência pancreática, dano da mucosa intestinal, intolerância à lactose, doença celíaca, abuso de laxantes, síndrome do intestino curto pós-cirúrgico;
  • Inflamatória/infeciosa: doença inflamatória intestinal;
  • Aumento da motilidade: síndrome do intestino irritável.

É perigoso ter diarreia durante a gravidez?

A diarreia na gravidez pode ser perigosa, sim. Os principais perigos são a desidratação em primeiro lugar e caso a diarreia se prolongue, poderá haver uma diminuição da absorção de nutrientes e vitaminas que levarão a algumas condições de saúde que poderão ser graves, tal como anemia e consequente cansaço e fraqueza muscular. É também importante perceber que caso a grávida esteja a tomar medicação ou alguma suplementação vitamínica, em forma de comprimidos ou xarope, a diarreia aumenta a probabilidade de expulsão destes medicamentos, antes dos mesmos poderem ser absorvidos. Isto poderá significar uma diminuição na sua eficácia e consequente dano para a saúde da mãe ou do bebé. No entanto, é raro que estes casos aconteçam, pois, a diarreia pode ser controlada através de tratamento e medicação específica.

E se a minha diarreia tiver uma cor diferente?

A cor da diarreia pode ser ligeiramente diferente do normal em algumas situações, sendo que deves ter particular atenção numa delas:

  • Cor esverdeada: possivelmente estará relacionado com a alimentação que tens feito, que poderá estar a basear-se, por exemplo, em vegetais verdes, uso de laxantes ou possivelmente uma infeção intestinal;
  • Cor amarelada: excesso de gordura nas fezes ou baixa concentração de ácidos biliares no intestino;
  • Cor escura: pode significar que o teu organismo está a ter um aporte de ferro superior ao normal, ou noutras situações pode significar uma pequena hemorragia do sistema gastrointestinal superior;
  • Cor vermelha (URGENTE): significa que tens sangue nas fezes, pelo que deves procurar aconselhamento médico assim que possível.

Existem alguns sinais e sintomas que devo estar atenta se tiver diarreia na gravidez?

Existem alguns sinais de alarme que deves estar atenta e, caso os tenhas, deverás procurar aconselhamento médico:

  • Imunossupressão (como por exemplo, se sofreste um transplante ou implante, se és portadora do VIH)
  • Febre≥38,5ºC;
  • Sangue nas fezes;
  • Diarreia profusa com desidratação (podes sentir cefaleias ou alterações na visão);
  • Duração≥48h sem melhoria;
  • Uso recente de antibióticos.

Existe um caso particular e raro, que deves ter especial atenção se sofreres de Hipertiroidismo, que se designa por Tempestade tiroideia. Apresentamos os sintomas usuais desta crise de excesso de hormonas tiroideias e, que caso os identifiques, deves recorrer aos cuidados de saúde mais próximos com urgência:

  • Febre;
  • Taquicardia;
  • Alteração do estado de consciência;
  • Vómitos;
  • Diarreia;
  • Arritmias cardíacas.

O que fazer em caso de diarreia na gravidez?

Deves sempre procurar aconselhamento médico antes de iniciares qualquer tratamento. Contudo, podes tomar algumas medidas alimentares, caso a diarreia for leve e não apresente sinais de gravidade:

  • Aumentar a ingestão de água (para prevenir a desidratação);
  • Comer arroz cozido;
  • Comer bananas e maçãs cozidas;
  • Comer pão torrado com pouca manteiga;
  • Comer sopas com cenoura, abóbora, batata.

Se for o caso em que tenhas de tratar uma diarreia aguda (inferior a duas semanas), este será o possível tratamento que irás fazer:

  • Reidratação oral
  • Tratamento sintomático: probióticos (UL250).

Antidiarreicos e antibióticos não estão aconselhados.

Se a diarreia na gravidez for crónica (superior a 4 semanas), o tratamento é dirigido à causa específica da diarreia, sendo que será necessário fazer alguma investigação clínica (exames complementares de diagnóstico).

Se estiveres a viajar por países em desenvolvimento ou com condições sanitárias duvidosas, aconselhamos:

  • Consumir apenas água engarrafada e não peças, nem aceites, gelo nas bebidas (exceto se tiveres a certeza de que são feitos com água mineral engarrafada);
  • Não comer carnes malpassadas ou marisco cru;
  • Evitar comer legumes não cozidos ou frutas com casca;
  • Evitar o consumo de produtos lácteos.
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